Bate- Papo Afrânio
Marques
Um histórico de uma criança traquina e briguenta, que passou
pela juventude movido por movimentos sociais e que sem pretensões políticas,
inicialmente, chegou a presidência da Câmara de Vereadores. O pacato Professor
José Afrânio Marques de Melo, 48 anos, já foi menino de briga e hoje de muitas
histórias pra contar. Foi mais um convidado do quadro “Bate-Papo Direto ao
Ponto”.
Infância
Nascido em 6 de março de 1967, na cidade de Toritama, caçula
dos nove filhos do senhor Luiz Marques de Melo e da senhora Luzia Soares de
Melo, Afrânio mudou-se para Santa Cruz do Capibaribe ainda criança. “Nasci em
Toritama e morei em Caruaru e Recife, para depois vir para Santa Cruz, com 3
anos de idade. Evidentemente, disso não lembro minha mãe que conta. Minhas
lembranças começam por volta de 74, com a copa da Alemanha”, diz.
Futebol, aliás, é algo que Afrânio sempre gostou. Torcedor
do Santa Cruz Futebol Clube, foi treinador de time colegial e jogou futebol
durante toda a juventude. Foi nos campinhos e quadras também que arranjou
diversas confusões... Uma delas com Roberval Soares, hoje destacado empresário
da região. Não à toa, o pai vez ou outra, lhe repreendia.
“Eu era muito danado, e a educação do meu pai ele mesmo
dizia ‘minha educação é igual talo de macaxeira, é por dentro’. A confusão com
Roberval foi jogando bola no Cenecista, ele sempre foi ‘fortinho’, e numa
jogada eu coloquei o braço e ele caiu. Teve confusão”, conta.
Esperando a hora
certa...– Em outra confusão, o pequeno Afrânio ‘vingativo’, esperou cerca
de 15 dias para devolver a bronca que levou do pai. “Foi com Reinaldo. Teve uma
briga e ele tinha as unhas grandes e me arranhou todinho, e depois muita
conversa e fofoca chegou em casa, e fiquei trancado uns quinze dias, colocava a
cadeira na frente de casa, onde meu pai vendia sapatos e ficava apenas olhando.
Pensavam que eu estava olhando os sapatos eu estava era na tocaia”, relembra
rindo.
A defesa -
“Morava ao lado da igreja e quando fazia minhas traquinagens, corria para casa
de dona Edith e me escondia embaixo da cama, já tinha o meu cantinho certo. Minha
mãe perguntava e ela dizia que não estava lá, para não levar uma pisa”,
relembra.
Hiperativo -
Em período em que a tecnologia não era das mais avançadas, Afrânio conta as
brincadeiras eram mais saudáveis e ‘revela o segredo para o seu porte físico’. “Morei
muito tempo na rua grande que tinha por trás de casa, a época, 3 ou 4
ruas apenas, jogava muito bola no rio e barra bandeira à noite. Não existia
Whatsapp, a gente gastava energia de verdade, por isso sou magro”, brinca.
Além do futebol, praticou salto em altura, em tempo que não
tinha colchão. “Era no seco”, como diz. E tempos depois foi treinador de futsal
do hoje prefeito Edson Viera. “Ele era um jogador mais ou menos”, brinca.
E o menino que não
gostava de estudar, se apaixonou pela leitura...
O ingresso nos movimentos estudantis foi fator determinante
para Afrânio mudar seu comportamento, e deixar o ‘estilo’ bagunceiro de lado.
“É incrível. Meu comportamento mudou muito com a entrada no
Grêmio estudantil, no Cenecista. O diretor era Antonio Gomes, pai do Secretário
de Serviços Públicos, Junior Gomes. E eu trabalhei como auxiliar de secretaria,
e já tinha feito nesse período, contabilidade no ensino médio e depois
magistério que tinha no Cenecista, nesse tempo. E no período de auxiliar de
secretário, os professores Edson Tavares, Paulo Barros, Josemildo Henrique,
deixavam texto e depois perguntavam ‘e ai o que achou?’ e eu não sabia, por que
não lia. E de tanto saber que eles iriam perguntar eu comecei a ler, e peguei
esse hábito, o gosto por isso. E foi minha salvação por que atribuo tudo que
conquistei ao estudo”, fala.
Amigos de longa
data... - Um dos adversários políticos do professor, atualmente,
Ernesto Maia foi colega de colegial. Ele ainda relembra outros amigos e quem
era o ‘riquinho’ da turma. “Tinha Adauto, Matuza, Manoel Filho, e Ernesto era
muito estudioso, hoje ele está preguiçoso, mas naquele tempo era o aluno top da
turma. Além disso, como pouquíssima gente tinha televisão em casa, quando
terminava a aula, seguia para casa de Ernesto para assistir. Era o rico da
turma”, comenta.
Caminhada no Grêmio
Escolar Castro Alves
Afrânio começou sua vida política fazendo movimento
estudantil em 1984, no mesmo colégio Cenecista, como conselheiro do Grêmio
Estudantil. Até aquele momento, a única intenção era retirar um ‘ditador’ da
gerencia do grupo estudantil, sem maiores pretensões. “Quando fui concorrer não
imaginava em política partidária, ou algo do tipo. Nesse tempo, e Clodoaldo
Moreira era bem durão, com aquele jeitão dele, achávamos muito autoritário, e
nos juntamos para tirar ele da presidência do Grêmio. Marinho de Báu enfrentou
e foi presidente e eu saí como conselheiro eleito com 10 votos, e depois disso
consegui destaque”, conta.
Em 1985 foi eleito vice-presidente e em 86 presidente do
referido Grêmio, cargo em que permaneceu até 1988. O detalhe é que nessa
eleição venceu o mesmo Marinho de Báu que poucos anos antes tinham conseguido
juntos tirar Clodoaldo da liderança. “Era tudo muito organizado e tínhamos
sinuca, ping-pong, damas, xadrez, era bem equipado, com padrões dos times da
escola, ainda fazíamos discoteca que conseguia um bom dinheiro para organizar
tudo”, relembra.
Fundação da UESCC e
ingresso no Partido dos Trabalhadores
A entrada no PT, seu primeiro partido, deu-se pela
influencia do amigo Carlos Lisboa. No partido, foi presidente do diretório
municipal três vezes consecutiva. A fundação da UESCC aconteceu um pouco
antes...
Hoje a União dos Estudantes de Santa Cruz do Capibaribe é
uma entidade consolidada entre a classe no município. Luta iniciada em 1989,
tendo à frente ele, que também foi seu primeiro presidente.
“Já tinha um grupo de amigos, que tinha um movimento de
universitários, a USC. E começamos a nos reunir por trás da Avenida Padre
Zuzinha, no Bar do Canal. Mas nem todos os alunos gostavam de bar e queríamos
outro espaço, foi quando pedimos o salão paroquial ao padre Bianchi que cedeu o
espaço e depois veio à luta pela sede própria”, relembra, acrescentando que o
Padre ainda lhe convidou para ser coroinha. Afrânio não aceitou.
Em 1990, foi eleito presidente do Diretório Central dos
Estudantes (DCE) da faculdade de filosofia e Letras de Caruaru (FAFICA).
Faculdade a qual Afrânio é licenciado em Ciências Sociais.
Liderança entre
alunos e professores
Afrânio Marques é Professor licenciado em Ciências Sociais
na FAFICA, em Caruaru e pós-graduado em História Econômica FAFI de Patrocínio,
interior de Minas Gerais.
“Interessante, hoje a graduação “Latu Sensu” se faz por
aqui, em Caruaru... é muito fácil. Mas naquela época não era simples. Eu
queria, mas não podia. Em Santa Cruz só tinha “Latu Sensus” professor Edson
Tavares, que hoje é doutor e professor universitário, professora Ritinha, e a
saudosa Avaní Lopes. Eu fiz em Patrocínio que a 53 horas de ônibus. Fui o
quarto a ter este tipo de graduação na cidade. Hoje, com as facilidades,
existem vários. Que bom que mudou nesse sentido”, fala.
Todo o esforço como professor está presente também na
fundação da base do sindicato dos profissionais, no município. Sindicato que se
fortaleceu ao longo dos anos e que, hoje, é uma das classes mais fortes, quando
a questão é reivindicação dos direitos.
“Luciene que está até hoje na luta, tinha chegado de
Custódia e não conhecia muito. Iniciamos juntos quando tinha cerca de 8 pessoas
apenas nessa luta”, diz e completa “Hoje realiza assembleias e chega até a 200
pessoas. Isso é fruto do que contribuímos com a categoria”.
Candidatura – Apoio
de amigos e família com ‘pé atrás’
Com tantas causas em movimentos estudantis e na classe
profissional, uma candidatura para cargo público era inevitável e aconteceu
pela primeira vez em 1996, filiado ao PT, concorrendo a uma das cadeiras na
Câmara de Vereadores de Santa Cruz do Capibaribe.
“Eu não imaginava fazer política, não tinha isso mente. A
ideia era tirar Clodoaldo da presidência do Grêmio. Lembro que a primeira
pessoa que disse que eu precisava tentar foi dona Alice do cartório. Foi a
primeira incentivadora”, disse.
Nem todos pensavam como dona Alice. Em casa, a experiência
do avô ‘assombrava’. “Muita gente diz que política é coisa de sangue, mas
não acredito nisso. Na minha família, com exceção do meu avô, que foi prefeito
em Quipapá, ninguém caminhou para esse lado. Mesmo meu avô tendo três famílias
e vários filhos, nenhum trilhou esse caminho. Minha mãe e meu pai não queriam.
Acho que por a experiência de família. Meu avô tinha boas condições financeiras
e não se deu bem na política. Quando saiu ficou apenas com uma casinha
simples”, comenta.
Forte cabo eleitoral –
Mesmo não sendo simpática à ideia do filho ingressar na política, dona Luzia
entrou ‘de cabeça’ para eleger o filho, e fez campanha, por engano, em local
nada familiar, localizado próximo ao cemitério velho do município... “Minha mãe
está com 84 anos e foi um dos cabos eleitorais mais fortes. Teve um fato
interessante que ela me contou e pediu para que não contasse ao meu pai. Certa
vez estava fazendo porta a porta, e adentrou num bar. Ela, analfabeta, não leu
a entrada e não sabia que se tratava de um cabaré”, conta.
A mulher também não
gosta - Afrânio é casado, tem duas filhas e a depender da companheira,
com quem tem uma relação de 16 anos, a vida do professor seria menos agitada.
Ela até hoje não se acostumou com a vida pública do companheiro. “Ela realmente
não tem esse desejo que eu continue, por que fazer política é complicado é
espinhoso. Muitos partem para o lado pessoal e não as políticas públicas para
melhoria do bem estar social. E tudo isso, não agrada ela. Mas ela respeita
minha opção”, diz.
Faltou caixa...
Em 1996, Afrânio terminou a eleição na vigésima posição
geral, não conseguindo êxito. No mesmo pleito, Ernando Silvestre vence Padre
Bianchi e eleito prefeito pela segunda vez. “Não era conhecido, gastei R$
300,00 e tive 336 votos. Ou seja, cerca de 1 real por voto”, comemora.
2000 Eleito –
A vitória nas urnas para o cargo foi conseguido na eleição seguinte. Apoiando o
candidato a prefeito também eleito, José Augusto Maia. “Gastei R$ 1.090,00 e
tive 1019 votos”, salienta.
Sem apoio – O
desenvolvimento em trabalho social no município não obteve o apoio necessário
pelo então prefeito José Augusto Maia, afirma Afrânio. E o fez como deixar o
governo. “Primeiramente ele falou que deixássemos para o segundo semestre por
que estava chegando a prefeitura, as coisas não estavam boas. E pegamos o
orçamento e vimos que a verba que vinha, estava sendo remanejado para outras
áreas”, explica.
2004 derrotado –
Com a saída do governo e sem fixar-se ainda no grupo de oposição, decide sair
sozinho para mais uma candidatura ao legislativo municipal. Mesmo conseguindo o
maior número de votos até então. Fica de fora. “Saí sozinho, fora dos dois
grupos, sem candidato a prefeito e recebi 825 votos. Até hoje, quem saiu
sozinho não conseguiu esse número de votos”, comemora.
2008 vitória –
Em 2008, na eleição de Toinho do Pará para prefeito, Afrânio retorna a um
palanque, mas no grupo oposicionista do candidato derrotado Edson Vieira.
Obteve 1.518 voto filiado ao PSDC.
2012 vitória –
Reeleito com 1.501 votos. No seu terceiro mandato, consegue chegar a
presidência da Câmara Municipal. “Estamos em constante processo de
aprendizagem”, ressalta.
Jogo Rápido
Lula – Uma contribuição para pais que hoje é muito
questionada
Dilma Rousseff – Está à frente, mas não tem a vivencia.
Cheiro do povo.
Eduardo Campos – Era uma esperança para o povo
Augustinho Rufino – Um sábio. Entende de política.
Saiu na hora que estava interessante para ele e pra conjuntura como um todo. Um
cara que soube sair da política.
Zé Augusto – É um cara que deu uma contribuição, mas colocou
os pés pelas mãos, e hoje paga por isso.
Ernesto Maia– (Pensa...) É complicado falar de Ernesto.
Carlinhos da Cohab – Infelizmente precisava de mais conteúdo
para contribuir melhor com Santa Cruz.
Fernando Aragão – Deu uma contribuição e infelizmente não
teve oportunidade. Pode sair do grupo sem ter tido essa oportunidade.
Júnior Gomes – Uma pessoa que contribui com Santa Cruz do
Capibaribe. Tivemos um bom momento quando fomos juntos oposição.
Dimas Dantas – Uma pessoa que contribuiu com Santa Cruz, mas
ele se acha o centro de tudo. Precisa melhorar nesse aspecto.
Edson vieira – Uma expectativa boa
Afrânio Marques – Um professor que gosta de ensinar, que
entrou na vida política sem ter planejado. Mas para dar uma contribuição com
Santa Cruz. Gosta de conversar, bater papo, pena que o tempo é pouco até para
família.
Boca preta – Uma questão cultural, que assim como Taboquinha
precisa ser respeitada, mas também superada, pelo bem da própria cidade. Já
estamos com 100 mil habitantes e não para tratar a cidade como antigamente.
Santa Cruz do Capibaribe – Uma mãe que acolhe a todos e que
precisa ser melhor cuidada por todos, principalmente e em especial pelos
políticos.
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